"Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura." - Charles Bukowski

31.8.12

Olhos de saudade




Aqueles olhos a me olharem com tanta saudade mesmo antes de deixá-la. Ah aqueles olhos, nunca conheci alguém mais expressiva do que ela. Aqueles olhos contavam-me tudo. Eram francos. Podia-se ver sua alma, se assim ela deixasse. E ela me permitiu, vi tamanha paixão, tanta liberdade, uma coragem que assustava e muito medo, vi muito medo naquela menina de cabelos vermelhos.

A vontade e a pressa que ela tinha de viver, me entorpeciam, me sufocavam e me viciaram. Se eu pudesse eternizar algum momento, voltaria sempre para a sua cama. Fomos tão cúmplices, tão verdadeiros. Éramos um ao outro tudo que queríamos. Voltaria àquelas noites que dormia com ela pressa em meus abraços. Ela tão doce, tão menina, tão segura e tão frágil. Estava machucada, queria a felicidade.

E eu, bom eu sabia que tudo tinha data pra acabar. eu lhe avisei, em breve vou embora, Anna não se importou. Disse-me: - Quero apenas viver ao teu lado o tempo que ainda nos resta. Mas ela queria tudo, queria desvendar minha alma, exigia-me meus medos, me exigia, enquanto estivesse com ela. Eu admirei sua coragem. Mas fiquei com medo. Resolvi deixá-la na esperança que meu sofrimento fosse reduzido.

Ela me esperou naquela noite com lírios na mesa. Uma massa quatro queijos e uma garrafa de vinho. Queria uma despedida inesquecível. E foi. Jantamos. Assisti meu filme favorito com ela entre meus braços, beijando sua orelha e acariciando seus seios. Ela me olha e seus olhos me imploram pra ficar. Pra tê-la sempre assim segura, cuidada, amada em meus braços. Meus olhos marejaram, eu disfarço.

Ela me levou até o portão, fez questão, queria saborear cada segundo que lhe restava pra me absorver. Beijou minha orelha e falou baixinho que nunca me esqueceria, que sentiria falta de acordar na madrugada comigo acariciando seus cabelos longos. Parti, parti querendo ficar. Querendo que ela fosse só minha. Querendo que ela nunca me deixasse. Querendo ter a certeza que se a tivesse ela nunca me deixaria.

Aqueles olhos de saudade a me chamar.


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