"Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura." - Charles Bukowski

31.8.12

Olhos de saudade




Aqueles olhos a me olharem com tanta saudade mesmo antes de deixá-la. Ah aqueles olhos, nunca conheci alguém mais expressiva do que ela. Aqueles olhos contavam-me tudo. Eram francos. Podia-se ver sua alma, se assim ela deixasse. E ela me permitiu, vi tamanha paixão, tanta liberdade, uma coragem que assustava e muito medo, vi muito medo naquela menina de cabelos vermelhos.

A vontade e a pressa que ela tinha de viver, me entorpeciam, me sufocavam e me viciaram. Se eu pudesse eternizar algum momento, voltaria sempre para a sua cama. Fomos tão cúmplices, tão verdadeiros. Éramos um ao outro tudo que queríamos. Voltaria àquelas noites que dormia com ela pressa em meus abraços. Ela tão doce, tão menina, tão segura e tão frágil. Estava machucada, queria a felicidade.

E eu, bom eu sabia que tudo tinha data pra acabar. eu lhe avisei, em breve vou embora, Anna não se importou. Disse-me: - Quero apenas viver ao teu lado o tempo que ainda nos resta. Mas ela queria tudo, queria desvendar minha alma, exigia-me meus medos, me exigia, enquanto estivesse com ela. Eu admirei sua coragem. Mas fiquei com medo. Resolvi deixá-la na esperança que meu sofrimento fosse reduzido.

Ela me esperou naquela noite com lírios na mesa. Uma massa quatro queijos e uma garrafa de vinho. Queria uma despedida inesquecível. E foi. Jantamos. Assisti meu filme favorito com ela entre meus braços, beijando sua orelha e acariciando seus seios. Ela me olha e seus olhos me imploram pra ficar. Pra tê-la sempre assim segura, cuidada, amada em meus braços. Meus olhos marejaram, eu disfarço.

Ela me levou até o portão, fez questão, queria saborear cada segundo que lhe restava pra me absorver. Beijou minha orelha e falou baixinho que nunca me esqueceria, que sentiria falta de acordar na madrugada comigo acariciando seus cabelos longos. Parti, parti querendo ficar. Querendo que ela fosse só minha. Querendo que ela nunca me deixasse. Querendo ter a certeza que se a tivesse ela nunca me deixaria.

Aqueles olhos de saudade a me chamar.


30.8.12

O que eu diria pra mim com 12 anos?

O que eu diria a Kelen com 12 anos? Diria pra ela não ter rancor de seus pais que a fazem trabalhar desde tão nova. Diria pra ela que graças a isso ela aprendeu a valorizar o que adquiri com seu próprio esforço. Diria a ela a escutar e não apenas ouvir as pessoas mais velhas. Que as aulas de inglês lhe farão falta no futuro. Diria a ela pra não ter pressa, que tudo tem seu tempo pra acontecer. Diria que ela é mais fraca do que pensa e ao mesmo tempo muito mais forte do que ela é capaz de imaginar.



Diria que o mundo é machista, mas ela não precisa mostrar que é melhor do que ninguém pra ser aceita. Diria a ela pra brincar mais, sonhar mais, viver mais. Tomar mais banhos de chuva. Pra correr mais riscos. Que a vida não tem uma fórmula ou uma estrada pra ela percorrer, mas que essa estrada será construída por esforço próprio. Diria a ela pra não ser tão séria, e tão exigente consigo mesma. 

Que seu coração é delicado e ele será muitas vezes machucado. E que ela também vai machucar as pessoas, e isso é normal, faz parte da vida. Porque não podemos controlar as expectativas dos outros, e que o sentimento de culpa só nos amarra as pernas. Diria que sentir medo é natural, e não a enfraquece, apenas a torna humana. 

Se eu pudesse encontrar com ela, diria pra continuar do mesmo jeitinho com muita curiosidade, muita energia, e se apaixonando sempre pela vida. Diria pra não se assustar consigo mesma. Que pensar é a maior de todas as qualidades que ela possui, e que ela aprenderá a admirar isso nela.

Sabe de uma coisa se eu pudesse conversar comigo ao 12 anos eu não diria nada. Eu deixaria a vida me ensinar tudo isso, para que um dia eu pudesse ter orgulho da estrada pela qual eu caminhei. Eu apenas lhe sorriria e passaria a mão na cabeça. Diria apenas: nunca deixe de subir em árvores menina!


29.8.12

Olhos negros



Depois de seis meses finalmente resolvo ceder aos seus convites. Combinamos de almoçar no shopping que ele trabalha, amanhã. Vou ter que ir até Porto Alegre para um compromisso pela manhã, já aproveito pra revê-lo. Mas a mágoa ainda não passou. Meu coração ainda está ferido ainda sinto-me usada. Sei que o sentimento que ele nutre por mim é verdadeiro, porém algo sempre me alerta para a possibilidade dele tentar tirar proveito de mim. Não sei ao certo o que ele pretende. Já me disse que não quer namorar, eu já pensei na possibilidade confesso. Acho desafiador andar com ele a tira colo. Um "Negro" lindo, corpulento. Por vezes acho que sou eu a abusar dele.

Um menino em um corpo de homem. Travando por vezes as mesmas guerras que eu. Ele quer trabalhar em uma grande corporação, ganhar bem. A sociedade conseguiu atraí-lo com suas teias, ele acha que um bom salário lhe garantirá felicidade. Ao passearmos pelo Iguatemi eu lhe digo: eu prefiro à autonomia à estabilidade. Ele me responde: é bem teu tipinho: mandona! Fico pensando, é bem meu tipinho mesmo, mas prefiro à autonomia de poder mandar em mim à estabilidade de um bom salário, que me confina, me engessa. Eu lhe digo: já pensei assim, e lhe mostro a língua.

Mandei uma mensagem ao chegar no shopping: estou na frente da cultura. Quando o vi chegar, não era ele, era  outro. Eu era outra. Ele não me olha mais como antes, me olha sem interesse, sem curiosidade, como pode ainda querer me ver?  Se me vê e não me enxerga? Será que eu o enxergo? Já o julguei errado tantas vezes. Já pensei que ele só queria festa e vida mansa. Mas não, terminou o curso técnico, e antes do fim já era funcionário de carteira assinada. Um bom estágio, lhe rendeu frutos.

Aqueles olhos tão negros já me disseram tanto, hoje não me dizem nada, será que é o meu reflexo? Será que meu olhar também mudou? Queria por um instante voltar a noite que nos vimos pela primeira vez e vê-lo passar de novo com aquela camiseta branca, ouvir de novo sua voz grossa em meu ouvido, mas principalmente ter aqueles olhos cheios de esperança e curiosidade a me enxergar novamente.

E nos despedimos de volta na cultura, como dois estranhos que nos tornamos. Porque talvez sejamos isso dois novos estranhos. E a cada novo reencontro seremos estranhos novos.



28.8.12

O que eu quero? réplica

Depois de um ano e meio passados do texto postado anterior, me surge esse, que já está parte escrito em folhas de papel. Surge, como o título já diz, uma réplica de uma Kelen mais madura, mais segura e mais tranquila consigo mesma. Mas ainda muito inquieta, e apaixonada, mas que se respeita mais apesar de suas imperfeições. E que se pergunta a cada novo texto: Será que um dia conseguirei eu colocar as minhas angustias em algum personagem?

O que eu quero? O que eu quero hoje?

Hoje eu gostaria de viver em um mundo diferente, num mundo onde houvesse liberdade. E que a suposta liberdade que temos não fosse simplesmente uma realidade inventada, uma falsidade vendida. Gostaria de viver numa democracia de fato e de direito e não nesta ditadura mascarada de democracia, que nos é imposta goela abaixo.

Queria viver em um país livre, em que o voto, ou a eleição de um governante significasse que a partir de então passaria-se a viver regido por um plano de governo que tivesse a cara, a impressão digital dessa pessoa, ou mesmo do seu partido político.

Viver em um mundo onde as diferenças fossem cultuadas, as diversidades fossem vistas com encantamento. Gostaria de não ser tratada como uma cabeça de gado. Que o mundo não fosse massificado.


Hoje estou em paz com aquele sentimento de revelação do texto anterior. Hoje sinto prazer em pensar. Pensar o mundo, pensar minha existência, pensar quem sou pra mim, pensar quem sou para os outros. Hoje sinto prazer da dificuldade que tive para ser eu. Hoje admiro a minha capacidade de não simplesmente "fazer algo", mas pensar a respeito. De tentar traçar o meu caminho e não seguir uma rota pré definida. Hoje estou em paz com minha mente pulsante, estou em paz com o que fiz de mim, com o que estou fazendo de mim.

Ainda quero mudar o mundo, e sei que isso não depende apenas de querer, mas isso não me impede de querê-lo ainda mais. E não me apequena frente ao futuro incerto, não me cala. Hoje deixo-me ser, e mais do que isso aceito-me tal como sou.

Lembro-me de uma frase que fiz há uns meses em uma conversa tentando explicar a situação que vivia frente ao meu retorno a casa de meus pais. Eu quis o mundo e me perdi, voltei pra casa e encontrei meu mundo. Hoje sei que meu mundo eu carrego dentro de mim. E isso me basta, melhor é suficiente.




O que eu quero?

Achei este texto que escrevi enquanto passei uns meses isolada no litoral. Estava tentando me encontrar e destravar a minha tese de doutorado. Bom gostei do que escrevi, achei prudente postá-lo neste espaço que amo mais a cada nova postagem. Aproveitem, se puderem!
Hoje entendo muito melhor o que eu sentia neste momento. E o texto merece uma continuação. Ela virá, aguardem!

Fico brigando incessantemente comigo mesma. Queria parar de brigar tanto, e simplesmente fazer o que precisa ser feito, fico me lembrando daquele slogan da Nike "Just do it", apenas faça, apenas faça o que precisa ser feito. Apenas faça. Sempre que me lembro desse slogan, faço uma associação direta com o filme Do que as mulheres gostam, com a excelente Helen :Hunt e o Mel Gibson, acho aquela apresentação do comercial da Nike maravilhosa, mas ali o slogan é um pouco diferente: Nike no games, just sport. Tentei procurar a cena no youtube, mas por alguma razão ele resolveu me sabotar e não consegui anexar o vídeo aqui.



Tomar consciência a respeito de quem se é só complicou a minha vida. Quando eu não pensava se estava fazendo o melhor possível, qual a relevância de quem eu sou, eu apenas produzia. E lendo o que escrevi, analisando o que fiz até hoje, quer dizer até dois anos e meio atrás, tenho um parecer positivo. O que eu fiz da minha vida foi bom. Então porque eu não consigo mais fazê-lo? Me questiono se essa é a pergunta certa a ser feita, eu não consigo? ou eu não quero? Mas se não quero, não quero porque o quero melhor, ou porque quero outras coisas? Eu não sei essas respostas, me questiono isso há quase três anos e até agora não encontrei as respostas. 

O que eu quero? 

Hoje o que eu quero é parar de competir comigo, parar de ficar procurando a melhor versão de mim mesma, e apenas me deixar ser o que eu sou hoje, sem rivalidades mesquinhas, sem campeonatos para serem vencidos, apenas jogar o jogo da vida,  por puro esporte. E lá vem aquele sentimento de competição me martelando na cabeça: mas não te esquece mesmo jogando futsal tu sempre dá o melhor de ti para fazer o melhor possível. Heureca! Eu sempre faço o melhor possível naquele dia, isso não significa que o melhor daquele dia é o melhor da minha vida. Quem sabe não é por aí o caminho...

27.8.12

Cântico Negro


Cântico negro


José Régio

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!



PS: Meu amigo Thiago Silva me mostrou essa poesia na sexta-feira, e foi um amor instantâneo! Obriguei-me a postá-la aqui e tê-la sempre ao meu alcance. Obrigada Thiago! A interpretação de Maria Bethânia é outro presente! 
Boa Semana!

26.8.12

Eu escrevo pra entender

O fato de me dedicar a escrever tem me trazido tanta paz, que me leva a pensar porque tenho gostado tanto desse processo, e sentido muita necessidade de manifestar minhas ideias em forma de palavras escritas. Ao ouvir o grande mestre Saramago, em sua última entrevista para o programa Roda Viva da TV cultura, ele disse entre outras coisas, "A literatura não serve pra nada" ,"Eu não escrevo com a pretensão de causar alguma mudança". E ele disse ainda " Eu escrevo pra entender". 


Acho que a paz que eu encontro é justamente essa a de entender. De compreender melhor o mundo que vivo, de compreender melhor as pessoas ao meu redor, de entender melhor as minhas reações, meus valores, minhas culpas, meus medos. Escrevo pra entender o que eu escrevo. E desde que tenho deixado os textos simplesmente acontecer, assim como faziam os grandes mestres como Saramago e Clarice Lispector, que diz: "Eu me deixo ser" tenho tido mais paz. 


Tem outra frase do Saramago, extraída desta entrevista que não me abandonou ao longo de todo o dia: " Eu não alimento discussões, não respondo a críticas e não entro em debates" perguntado porque ele responde: "você já viu ao final de alguma discussão uma das partes concordar com a outra?" Já inclui na minha lista de livros a serem adquirido e lidos: Ensaio sobre a cegueira e ensaio sobre a lucidez. 
Bom Domingo!


21.8.12

Diálogo em torno de: paciência, medo, medo e paciência!



  • Amigo:
    tu te descreve com adjetivos como sensualidade, paixão, inconformidade, energia, exigência, medo, impaciência... dá um placar de 5 x 2 para adjetivos bons, que dão a base para que um indivíduo viva de forma útil, feliz, e contribuitiva... seja para sí próprio ou para os outros...
  • há 22 horas
    Amigo:
    • o certo é que dificilmente tu irás fugir de padrões sem tornar a "coisa" anárquica... e sem organização, as "coisas" ficam mais complicadas... não digo impossíveis, mas PODEM ficar mais difíceis..

  • há 21 horas
    Kelen Trentin
    • eu não concordo que dê 5X2 pra adjetivos bons... na verdade todos eles são pesados pra mim
    • as coisas estão muito difíceis...
  • há 21 horas
    • Amigo:
    • as coisas são fáceis para poucos... sendo difícil, o prazer é maior! a recompensa é mais valiosa... pode mudar os planos... alterar o caminho... escolher outros destinos... só não pode desisitr...
    • e pra mim é 5x2 sim...

  • há 21 horas
    Kelen Trentin


  • Será que um dia verei como 5X2?? Será que um dia vou conseguir deixar a anarquia?

18.8.12

Hoje é um dia bom pra se morrer...

Autor: Carlos Omar Villela Gomes

Hoje é um dia bom pra se morrer...


Pensou repentinamente, sentindo a alma nos olhos...
Assuntou consigo mesmo na paz da varanda antiga...
Segredou com o silêncio que lhe fazia costado.

Hoje é um dia bom pra se morrer...

Ruminou quieto ao balanço da cadeira
Que lembrava o trote de um cavalo manso
Recorrendo o céu dalguma sesmaria.

Levantou, mirou o dia,
Que contava histórias de um tempo velho
No murmulhar da sanga, no bailar dos pássaros,
No beijar do vento sobre as casuarinas...
Matizou de sol as pálidas retinas
E assistiu a paz lhe comover.

Hoje é um dia bom pra se morrer...

Virou-se para a porta da morada,
Buscando o vulto da mulher amada
Que nem a morte lhe fez esquecer.

Mirou os frutos de uma vida bem passada...
Os retratos de família sobre a estante
E o sorriso da flor tão adorada
Que aos poucos inundou o seu semblante.

Estava ali a estância bem cuidada...
A tropilha de mouros na mangueira,
Mil cabeças de boi nas invernadas,
E um suspiro, lembrando a vez primeira
Que um filho chorou de madrugada.

A filha, moça, preparando o mate,
O filho, homem, sua cara e jeito...
Um sentimento de missão cumprida
Coroando uma vida em arremate.

Eram os sonhos, sim, eternizados
Junto à saudade de quem já partiu...
Deixando amor e uma cruz plantada
Feito dois braços acenando ao rio.

Hoje é um dia bom pra se morrer...

Fechou os olhos, num suspiro doce...

Já tem os filhos criados,
Não deve nada a ninguém...
E já provou, pela vida,
De tudo que a vida tem.

O cachorro, companheiro, de confiança,
Chega quieto e lambe a sua mão...
A alma singra mares de distância
Além do sol que incendeia a imensidão.
Sente as plumas dos anjos, revoando,
E uma canção divina ressoando
Na calmaria do seu coração.

Hoje é um dia bom pra se morrer...

Abriu então os olhos mansamente
E mirou, logo à sua frente,
Uma luz, que fez sua alma florescer...

Hoje é um dia bom pra se morrer,
Mas não é o dia ideal...
E saiu, puxando o neto num petiçote maceta...
Viver é bom, afinal!!!

15.8.12

O que é a NOSSA sociedade afinal?

O que é sociedade? (Sei que como uma bacharel em física, não deveria citar o wikipedia como fonte, mas na impossibilidade de algo mais referenciável no momento) SOCIEDADE
Achei a definição um tanto ampla e até compatível com o conceito que intuitivamente eu faço, fazia sobre a palavra sociedade. Sociedade é um sistema semi-aberto... uma sociedade é uma rede de relacionamento de pessoas... e tem gente que até dúvida que sociedade de fato exista. Em minha mente quando me refiro a sociedade, penso mais no conjunto de valores, costumes,  regras, morais que impregnam nossas vidas.
É óbvio que esse conjunto de parâmetros que "moldam" a maneira como as pessoas vivem aqui no Brasil, é muito distinto do que na Somália, por exemplo. Mas é inegável que na era da globalização, da informação, a tendência é que esses valores se miscigenem e isto está acontecendo muito rápido, e estamos vivendo esta mudança, talvez por isso seja tão difícil percebê-la.
A sociedade brasileira, ou o inconsciente coletivo da sociedade brasileira é formado por tantas influências: indígena, portuguesa, espanhola, norte-americana, africana, italiana, alemã, etc... por um lado não fazemos parte de nenhuma delas, por outro somos todas elas.
Quando em textos anteriores, usei o termo nossa sociedade estava generalizando ao extremo sim, estava falando em termos mundiais, e também estava sendo extremamente especialista. Porque ao falar da condição das mulheres, me referia às africanas mutiladas, às muçulmanas queimadas com ácido, e também estava falando da minha condição. Eu sofro preconceito quase todos os dias, aqui no Brasil, em  Novo Hamburgo, me sinto sim agredida e desrespeitada frequentemente. Sim sei que minha condição é infinitamente melhor aqui do que na maioria dos países do mundo, mas isso não invalida o sexisismo ao qual sou submetida. Não estou sendo eu sexista aqui também, nunca disse que esse insulto parte apenas de homens não, pelo contrário.
Sei que é duro dissertar sobre isso, e principalmente sei como pode parecer incompreensível esta questão para quem não a sofre, e ou não a pratica. Mas sim ainda hoje, nós mulheres somos submetidas a valores, visões e costumes machistas. E eu  já fui discriminada em quase todos os  níveis sócio-culturais desse país. 


legenda: Foto tirada em Conceição do Jacuípe, Bahia, em fevereiro de 2012. Cidade onde conheci mulheres fantásticas, que marcaram minha vida.


14.8.12

Paciência, medo, medo e paciência!

Um amigo me diz, não raro: As vezes nem tu te aguenta, né?

E a frase é absolutamente verdadeira, nem eu me aguento. Eu penso tanto, exijo tanto de mim, que isso me sufoca, me sinto afogada na minha inconformidade. O que já me fez repudiar esse meu cérebro pensante. A querer simplesmente viver a merce da sociedade e a me adequar a padrões pré concebidos de felicidade. E não tenho vergonha em admitir que achei que esse fosse o jeito de ser mais feliz, ledo engano. Me mutilei, me senti ainda mais rejeitada por mim mesma, mais miserável. Me senti pobre, paupérrima, inútil.



Este amigo tenta a cada dia me mostrar que preciso ter paciência comigo, a formular melhor meus pensamentos, a me mostrar ao mundo. A não ter medo de mim, e que o único caminho que tenho é me aceitar, é pra me aceitar é preciso que eu aprenda a ser eu. E é difícil aguentar o tranco, é tanta sensualidade, é tanta paixão, é tanta inconformidade, é tanta energia, é tanta exigência, é tanto medo, tanta impaciência.




Gabriela...

Uma das personagens que mais toma minha atenção é Malvina. Malvina tem tanta raiva, tanta inconformidade, tanto desejo de liberdade. Amo seus diálogos inteligentes, amo sua maneira de lutar pelo que quer. Amo me identificar com ela.
Eis uma cena linda, aproveitem!

http://tvg.globo.com/novelas/gabriela/videos/t/cena/v/malvina-comparece-ao-velorio-de-sinhazinha-e-osmundo/2078767/


Gosto tanto de Gabriela, se sua maneira livre de observar a sociedade. De seus questionamentos infantis, e tão carregados de crítica a um comportamento imposto!

http://tvg.globo.com/novelas/gabriela/capitulo/o-padre-diz-a-nacib-que-nao-pode-casa-lo-com-gabriela.html#cenas/2069777


13.8.12

continuando com as expectativas...

Em um diálogo recente uma amiga me diz:

- Tu espera demais das pessoas!

- Espero demais? Só espero respeito e isso é pedir demais? 

- Sim. Hoje em dia ninguém mais respeita ninguém.

- Eu não sou todo mundo. O mais triste disso é que toda as vezes que alguém não me dá nem o mínimo que eu espero, eu vou perdendo a fé nas pessoas. 

- Ah Kelen, a noite é assim. É um grande parque de diversões e as pessoas só estão se divertindo. 

- Tudo bem eu aceito isso. Desde que eu não seja o brinquedo. 

- Não é na noite que vais encontrar o que procura.

- A questão é essa, eu não estou procurando ninguém. Só gosto de conhecer pessoas. Gosto de pessoas, mas a maioria só gosta de si mesmo!

Boa semana!



6.8.12

Liberdade, Expectativa e Realização

O que é afinal essa liberdade que eu tanto procuro? Quero eu mandar o mundo se catar? Não, não acho que seja essa a liberdade que procuro, eu me importo com o mundo.  Me importo com os sentimentos alheios. Quero a liberdade da auto-suficiência? Não, definitivamente não é essa a liberdade que almejo, já fui por esse caminho e não me realizou, sei que preciso das pessoas na construção da minha felicidade.



Acho que a minha liberdade está em simplesmente ser aceita por quem sou, por aqueles amo. Parece tão simples, mas é tão difícil ao mesmo tempo, principalmente quando quem mais se ama não faz a mínima ideia de quem eu sou, do que gosto, ou do que me realiza? E quando as pessoas que amo tentam enquadrar-me dentro de um molde pré-concebido de perfeição? Como lido com essa não aceitação? Como faço eu pra viver a minha liberdade? Tento me enquadrar, e me mutilo? Não me enquadro, e vivo em eterna briga? Mas e até que ponto fazer com os outros me aceitem, não é mutilá-los? Não sei como conseguirei equilibrar as expectativas, minhas e daqueles que amo. Acho que a verdadeira libertação que estou em busca é libertar-me dessas expectativas.

E um problema tão pequeno, tão familiar pode ser expandido para a intolerância religiosa, eis que mais uma vez um americano mata muçulmanos por não aceitar suas diferenças. Até quando as pessoas relutarão em aceitar que cada pessoa tem sua verdade, sua realidade, e que não é preciso entender os motivos, compactuar com as crenças, para simplesmente aceitar que diferenças existem. E pra se viver em harmonia não é necessário que todos pensem iguais, mas é aceitar exatamente as diferenças. Qualquer forma de radicalismo é cego.

Me lembro agora das olimpíadas, os brasileiros que voltaram pra casa com o ouro, foram aqueles aos quais não criamos expectativas, aqueles que não tinham a responsabilidade de trazer um ouro olímpico para o brasil. A vida, e as conquistas se tornam muito pesadas quando colocamos expectativas em nossos objetivos, quando exigimos de nós mesmos a perfeição, e não aceitamos nada menos, e a imagem do Cielo me vem a mente. Ele com três medalhas olímpicas se sente um perdedor, chora e pede desculpas por ter decepcionado uma nação, uma família, mas acho que o único que realmente ficou decepcionado foi o próprio Cielo, pois sabia de seu potencial e não conseguiu confirmá-lo. Não conseguiu? Acho que sim, conseguiu sim, muitas vezes na vida, não é só de nossas habilidades que as conquistas são feitas, mas um pouco de sorte e da ajuda dos outros também. O Cielo fez o melhor que pode, os Francês deu seu melhor, e nesse dia saiu campeão.



Freud já dizia: "poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons". Existe um caminho onde não colamos expectativas em nossos objetivos, aonde não esperemos de nós aquilo que queremos de nós? É possível se realizar naquilo que almejamos sem colocar expectativas nisso? Tornar o percurso mais leve e ficar mais feliz com o resultado, mesmo que seja um bronze? O que é muito melhor do que nenhuma medalha no peito. Se eu descobrir a formula eu volto pra contar!

É preciso aprender a voar com os pés bem presos ao chão!

2.8.12

Mulheres maravilhas? Não, não, só seres humanos do gênero feminino

Estou lendo "O segundo sexo" de Simone de Beauvoir, tido por muitos como a bíblia do feminismo, embora Simone ao escrevê-lo nem ao menos se considerava feminista. O livro, em sua primeira parte, faz um relato histórico da condição feminina. É uma obra prima muito bem embasada e referenciada. É chocante perceber ao lê-lo que nossa condição como mulher só tenha começado a mudar com a revolução industrial, onde as mulheres se tornaram mão de obra barata. E me atrevo a dizer que a mulher, assim como as crianças só se tornaram "Seres Humanos" iguais quando se tornaram além de mão de obra, consumidores. 

Sou uma crítica ferrenha ao capitalismo, ou melhor a nossa sociedade de consumo desenfreado, mas é preciso reconhecer os benefícios que ela trouxe a nós mulheres e as crianças, que deixamos nossa condição inferior para nos tornar consumidores IGUAIS. 


Contudo a criação de leis que legitimam a igualdade entre homens e mulheres não é garantia de uma sociedade igualitária para os gêneros. E hoje sofremos um preconceito velado. Não nos é permitido usar a palavra feminista, a ela foi atribuída uma conotação pejorativa. Uma mulher que se autodenomina feminista é tida como radical. Mas afinal o que é o feminismo? O movimento feminista surgiu em meados do século XIX,  e tinha como principal bandeira a igualdade, a igualdade de direitos e deveres, civis, criminais, educacionais, etc... Então sim eu ainda hoje sou uma mulher feminista! Porque ainda existem desigualdades a serem superadas, preconceitos a serem derrubados. Mulheres sofrem e são vítimas de violências todos os dias em muitos lugares do mundo. Muito avanço já foi feito, e muito há por fazer.
Nós mulheres somos livres, e independentes há pouquíssimo tempo, e ainda estamos engatinhando na arte de viver em pé de igualdade, sem precisar provar nada. Me remeto a frase de outra escritora fenomenal, Clarice Lispector, do livro A paixão segundo G.H., que li há alguns anos atrás, "É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que me achar seja de novo a mentira de que vivo" esta frase chega a doer quando leio, e explica um pouco a dor que nós mulheres sentimos ao vivenciar essa experiencia libertadora. Porque perder-se neste caso se refere a tudo que é novo, ao mundo novo que a igualdade feminina nos traz. Acho sim que muitas mulheres estão tentando se achar, e prendendo-se a mentiras, a falsas ilusões de liberdade. Têm-se negado a perder-se e viverem perdidas na liberdade.
Na ausência de uma versão melhor: deixo pra vocês uma música que traduz a alma da mulher moderna. Combina com o texto! Nega marrenta!
A segunda música, é um pouco como nos sentimos frente a nós mesmo! Excelente interpretação de Marisa Monte!