"Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura." - Charles Bukowski

12.12.12



Acordei sem paciência
sem paciência com a mediocridade
com a falta de comprometimento
sem paciência com o individualismo

Acordei triste
triste por ser humana
triste por minha inconformidade
triste por querer a perfeição

Fui apunhalada pelas costas
me feriram vil e profundamente
Minha alma sangra
quem me deve lealdade me trai covardemente
fica contra mim, mesmo eu estando em seu favor

Me encontro num beco sem saída
onde todos os erros do mundo fui eu quem cometeu
Toda a culpa da humanidade recaí sobre meu colo
e as lágrimas de cristo dilaceram minha carne putrefata










10.12.12

Ressaca moral




Ontem o mundo me doía então bebi
Bebi pra fazer minha cabeça aquetar
Ontem bebi até cansar

Hoje acordei de ressaca. Acordei? Ressaca?
Ainda estou sonhando
Hoje estou de ressaca
Bebi e a bebida me fez mal
Hoje estou de ressaca moral.

E o cérebro grita ainda mais alto
O mundo me doí ainda mais fundo
Hoje estou de saco cheio de ser gente
Estou de saco cheio de ser civilizada
Hoje estou de ressaca moral

De que serve a história?
Se o que é dito são estórias?
De que serve o cérebro?
Se todos gostam de obedecer ordens?

Estou de ressaca
De saco cheio
Quero continuar bebendo
nesse mundo desumano
pra quem sabe um dia acordar sem ressaca
Acordar sem cicatrizes nem marcas
Acordar em um mundo com moral


Esperanças

Fiquei chocada com a última reportagem que o jornal nacional veiculou na noite de hoje. Mostraram uma cerimônia de premiação, em Brasília, de alunos de escolas públicas, vencedores de concursos de escrita. Me emocionei com as declarações de meninos e meninas de interior do Brasil, que estão sendo ensinados a escrever e a pensar. Além dos alunos seus respectivos professores também foram agraciados com prêmios e reconhecimento. Subiram ao palco juntamente com seus pupilos.



Vi nessa ação uma clara demonstração de valorização dos professores. De valorização do ensino. meu coração se encheu da esperança de que de fato um novo Brasil, possa estar começando a ser escrito.

E a noite está realmente reservada para boas notícias. Ao entrar em um dos meu sites preferidos, dou de cara com essa reportagem: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/?p=7350 aonde percebo que em todo o mundo as pessoas estão decidindo abrir os olhos, estão optando por serem protagonistas de suas vidas.
Me sinto tão boba com tantas esperanças... Mas ao mesmo tempo não as quero perder. Porque se perco as esperanças de fazer parte, de poder construir um mundo melhor, não consigo me olhar nos olhos, não teria forças para levantar da cama.



É precisa manter o poder de indignação, com a paciência de percorrer um paso de cada vez. Aí o equilíbrio que tanto busco, porque teimas em me abandonar?

23.11.12

Despertar




Porque tem dias que eu acordo e tenho a sutil e delicada sensação que estou no caminho certo...

É tão fino este sentimento, que ele começa a escapar pelos meus dedos assim que me deparo com ele.

Quando começo a descrevê-lo ele se vai....

Tem manhãs que são só mais uma manhã, e são tão absurdamente diferentes de todas as outras manhãs...

Bom dia!

21.11.12

Nova eleição

Finalmente, após exatos 45 dias passados das eleições, o TSE, tribunal superior eleitoral, conseguiu chegar a um veredito sobre se o "candidato", nessas alturas prefeito eleito, é ou não "candidato" ou prefeito de Novo Hamburgo. Confuso? Sim, absurdamente confuso e caro, mas quem pagará a conta somos nós, hamburguenses e brasileiros. Teremos uma nova eleição, que custará aos cofres públicos algo em torno de R$ 200 mil, tudo isso porque o poder judiciário brasileiro é moroso e ineficiente. Existe a necessidade de haver três instâncias de poder, se todas elas conferem os mesmos vereditos? Porque haver três instâncias se as peculiaridades dos casos não serão analisados?




O TSE deveria ter agido com bom senso, em não conseguindo julgar em tempo hábil o caso, deveria ter sido democrático e acatado a voz dos 53% de eleitores hamburguenses que votaram no prefeito eleito, sendo julgado em questão. Na minha opinião essa decisão é uma afronta a democracia. E reflete como o poder judiciário brasileiro se porta frente ao povo: acima dele.



6.11.12

Eu hoje

Hoje estou mais inconformada do que de costume...
Hoje o mundo me dói
Hoje minha tristeza transborda pelos meus olhos ansiosos...
Está é a vida, está a minha realidade, está sou eu.

24.10.12

2º Manifesto pela segurança de Novo Hamburgo

Olá Pessoal, é um prazer vê-los aqui engajados !
Tem uma história que vou de contar pra vocês: um antropólogo propôs um jogo para crianças de uma tribo africana. Ele colocou uma cesta de frutas perto de uma árvore e disse às crianças: o primeiro a alcançar as frutas será o vencedor e poderá ficar com a cesta toda pra si. Quando ele gritou “começou!” as crianças se deram as mãos e correram juntas até a cesta, sentaram ao redor dela e dividiram todas as frutas. O antropólogo apavorado perguntou o porquê delas correrem assim, se um poderia ter sido o vencedor e ficado com todas as frutas, eles responderam: “UBUNTU”, como pode um de nós ser feliz se os outros estão tristes? UBUNTU é uma filosofia das tribos Africanas que pode ser resumido como: “eu sou porque nós somos”

Eu sinceramente acredito muito nesta filosofia, sempre acreditei, e sei que um dos nossos principais objetivos, neste momento, hoje, é plantar a semente dessa filosofia: eu sou porque nós somos. Porque nós estamos aqui, tenho a certeza que essa mobilização irá continuar, que não iremos chegar em casa, daqui a pouco, e esquecer que a cada 3 dias e meio um assassinato ocorre na nossa cidade. Chega a ser surreal proferir esses números, a gente se nega a acreditar neles, não é? Vocês também não ficam meio inebriados com isso? Pois eu fico, tá mas e aí? O que nós podemos fazer pra resolver essa situação? Gradear nossas casas? Não sair mais na rua à noite? Blindar nossos carros? Pensem comigo: vocês do fundo do coração acreditam que essas ações farão a criminalidade diminuir? É claro que não!

Então vocês podem estar pensando: Tá bom Kelen, mas então nos diz como podemos reverter essa situação? Bom, eu também não tenho uma reposta, e talvez nem os nossos governantes tenham uma noção exata do que precisa ser feito. Porque quando estamos tratando de pessoas não há manuais de instruções e agora eu pergunto para as mães e os pais aqui presentes: vocês podem escrever cartilhas de como criar filhos? E colocam a mão no fogo que está irá funcionar para o filho do vizinho? Creio que não!
Pessoal eu não estou aqui para achar culpados da situação ter chego aonde chegou. Mas o fato que assim não dá pra continuar, e isso nós estamos vivendo na pele. Talvez não saibamos como fazer, mas sabemos o que queremos! Queremos uma melhor qualidade de vida para todos os cidadãos de Novo Hamburgo. Sabemos que não será fácil mas se adotarmos a filosofia do UBUNTU: eu sou porque nós somos! Se nos desassossegarmos e nos perguntarmos, todos os dia: O que eu posso fazer hoje? O que nós podemos fazer para juntos, nós enquanto seres sociais e políticos que somos podemos fazer para mudar nossa cidade, nosso estado, nosso país? Poderemos fazer a diferença!

Pra mim cada povo tem o governo que merece, e o nosso governo é uma réplica de nosso comportamento como povo. Nós damos “jeitinho” em tudo, sempre arrumamos uma desculpa para não cumprir as leis, e o governo? Bom ele faz a mesma coisa, porque o governo somos nós!
Enquanto não mudarmos nossas atitudes, enquanto nós colocarmos a culpa e a responsabilidade pela nossa falta de comprometimento com a sociedade em que vivemos e que criamos, nos outros, nada irá mudar. Enquanto nós não exigirmos nota fiscal em todas as compras que fizermos, enquanto optarmos por pagar mais barato computadores, celulares, rodados dos nossos carros, os roubos não irão diminuir. Enquanto pensarmos pequeno, visarmos só o nosso benefício individual, crimes, mortes, assaltos continuarão a ocorrer! Porque vocês acham que haveria roubo se não houvesse quem o consumisse? Enquanto nós continuarmos tomando bala, fumando um baseadinho, cheirando uma carreirrinha de vez em quando, nossa luta com tráfico estará perdida! Enquanto eu só andar no limite de velocidade, na frente de pardais, mortes no transito continuarão a ocorrer todos os dias!

Uma das leis de Newton diz assim: A cada ação haverá uma reação! Nós estamos indignados com a reação, e nos negamos a mudar nossas ações! O que vocês acham que continuará a ocorrer se não mudarmos nossa atitude?
Precisamos educar nossas crianças, e educação começa dentro de casa. Não dá mais para lavar as mãos como Pilatos. Devemos assumir a responsabilidade pela nossa comunidade, pela nossa cidade, Ninguém precisa ser vigiado, mas todos devemos vigiar! Chega de ficar olhando pro seu próprio umbigo, para seus próprios problemas, a cidade precisa de você! Nós precisamos de você! Palavras comovem, gestos arrastam! SEJA EXEMPLO! SEJAMOS EXEMPLO!






12.10.12

Capitalista ser ou não ser?



Publiquei uma frase no meu perfil do facebook e gerou uma boa discussão em torno do tema capitalismo. Gostaria de dividi-la e guardá-la neste espaço. Contribuam se quiserem!
"O Capitalismo acabou com tudo meio assim a conta gotas" Marcia Tiburi
Questionador - Discordo! (Eu sempre discordo, né Kelen?).
Novo Hamburgo é um exemplo do BOM capitalismo. Foram os empreendimentos das pessoas físicas, indivíduos e grupos que fizeram NH ser o que é. Não interessa, geraram, com dinheiro do próprio bolso, empregos para milhares de pessoas. Alguns ganharam muito com isto, outros foram a falência.
Capitalismos = capital (dinheiro) posto em risco. Uns ganham, muitos perdem. Mas Capitalismo permite oportunidade para todos.

Kelen Trentin: Eu discordo de ti. O capitalismo valoriza o ter ao ser. Ele gera ambição nas pessoas. Faz com que estejam sempre insatisfeitas. Não que eu seja a favor do socialismo. Mas definitivamente a valorização única e exclusivamente do capital pelo capital não é bom! E ainda mais acaba com os valores morais, sociais e de justiça de uma sociedade.

Questionador: Concordo, Kelen, mas existe outra forma? Eu explicitei no meu post a palavra BOM. E NH é um exemplo do que um BOM capitalismo pode fazer. Aqui tivemos cidadãos que arriscaram o seu capital, é claro que para ganhar dinheiro, mas tendo que investir em empregos. Cidadãos de Novo Hamburgo construíram uma usina elétrica no Herval, não esperaram que o governo o fizesse. E tem tantas outras histórias sobre o que um BOM capitalismo pode fazer.

Kelen Trentin: Nossa que cidadãos bonzinhos que sempre governaram a cidade, não deixaram se criar nenhuma nova liderança a ponto do prefeito atual não ser natural daqui, nunca fizeram esforço nenhum para diversificar a matriz produtiva do município e ainda mais promoveram um êxodo rural absurdo na década de 70, não deram as mínima condição de habitação, saúde, saneamento básico e educação para essas famílias imigrantes. E ainda não tiveram a competência de prosperar suas empresas ao primeiro sinal de competitividade quebraram! Nossa que bom exemplo de capitalismo!!!!

Questionador: Não conheço muito da história dos Trentin, mas desde lá de São Chico sempre foram empreendedores, que, num regime capitalista puderam plantar e colher, levando junto com eles muita gente.
Em que outro regime politico isto seria possível?


Kelen Trentin: eu também não tenho a resposta a esta tua pergunta. Mas existem sim sociedades mais justas e igualitárias do que Novo Hamburgo. Os países nórdicos, Suécia, Noruega e Dinamarca, não há essa amplitude social absurda vista aqui. A diferença salarial entre um motorista de ônibus e juiz de direito não é discrepante. Todos tem condições, se não iguais, muito semelhante. E lá os índices de criminalidade são baixíssimos, o governo não exerce esse paternalismo infantil e os bilionários pagam muito mais impostos. Não esse capitalismo mesquinho que vemos aqui.

Questionador: Kelen, comparar uma cidadezinha como Novo Hamburgo com Suécia, Noruega e Dinamarca, não dá, né? Mas não te esqueças de que estes países destruíram florestas imensas e exterminaram diversas espécies marinhas, poluíram oceanos. Coisas dos tempos. Eles tem milhares de anos de história, nos só umas centenas, quem sabe apenas estamos acordando, com este trabalho de vocês.

Kelen Trentin: Bom eu não tentei comparar, mas me pediste uma outra alternativa. Enós aqui no RS, não acabamos com 97% da nossa floresta nativa? Não poluímos nossos rios? E o nosso litoral não possui pontos em que as águas são impróprias para o banho, né? O próprio rio dos sinos, quantas vezes já foi reportado em jornal nacional, porque os peixes estavam morrendo ou por falta de oxigênio ou por intoxicação?
Bom achei um texto que me abriu os olhos quanto aos países escandinavos: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/?p=9609


Questionador: Kelen, só agora li tudo o que tu postou. Te digo, não estás bem informada. Década de 70, 80, é uma coisa MUITO complicada. Regime militar, todos tinham medo, todos se calaram. Pergunta para teus pais, teus tios, teus avós. Sim, tivemos muita culpa do porquê de tudo isto hoje, mas não cobra deles, nem do capitalismo, só procura entender.

Questionador: Só ficando no problema da imigração: os vereadores daqui incentivavam a chegada de todos, ganhariam votos, mas não estavam nem aí para onde estes iriam morar. Daí os migrantes ocuparam, desorganizadamente, qualquer lugarzinho que encontrassem, posseiros, que não pagavam impostos. Quando um prefeito fechou as portas da cidade, foi um auê! Que barbaridade! Mas era ele que teria que fornecer a infra estrutura, com luz, água, etc. etc.
Os posseiros chegavam as centenas.
Os BONS cidadãos tentavam ajudar de tudo que é forma, empresários se abraçaram e investiram em moradas para esta gente que chegava.
Mas era incontrolável.
Acabou nisto que hoje temos.
Não foi culpa do capitalismo, nenhum regime de governo conseguiria controlar a invasão que aconteceu em NH nos anos 80.


Kelen Trentin: Mas o que motivou a invasão?

Questionador: Fome! Assim como dos nordestinos que vieram para São Paulo, os candangos que foram para Brasília e até dos Irlandeses que conquistaram os Estados Unidos e todos os colonos que vieram para o Brasil e muitos deles escolheram nossa região. O capitalismo propiciou estas coisa, não é o ideal, mas existe outro? (Que não precise de milhares de anos de explorações até terem conseguido uma estabilidade).

Kelen Trentin: As pessoas não passavam fome nas cidades do interior de onde vieram, o que fez elas imigrarem não foi a fome, foi a falácia do sonho americano, de emprego e prosperidade, o sonho de adquirirem seu próprio gálax! Depois de chegarem é que veio a fome. Se tu fores olhar as pessoas passam mais fome nas grandes cidades do que no interior! Eu não compreendo essa equação. O capitalismo não proporcionou, ele gerou essa amplitude social que vivemos. Os países escandinavos não levaram milhares de anos para evoluírem ao ponto que estão. A questão não é quanto tempo leve para mudar, mas sim se devemos mudar e para onde? Sim existem outras possibilidades! O que não dá é pras pessoas se conformarem com a situação em que vivem porque não enxergam outra possibilidade! Me ajude você a pensar em possibilidades melhores para a nossa sociedade! Como eu disse eu também não sei as respostas, não sou a dona da verdade. Mas não entendo, não me conforme, e gostaria de pensar em uma alternativa ao capitalismo. Não quero continuar vivendo nesta sociedade dicotômica que explora uma classe em detrimento de outra!   

8.10.12

Perfeição

Cheguei em casa, depois de passar o domingo na rua, li algumas notícias, vi algumas imagens, analisei o resultado das eleições na minha cidade e me bateu uma melancolia dolorida. Ouvi algumas músicas de protestos de um tempo passado e o que era melancolia virou tristeza.
É triste ver semi-analfabetos re-eleitos, filhos de políticos corruptos ascenderem a câmara. É revoltante perderem-se vidas, jovens vidas em troca de bens materiais. É ultrajante, é ultrajante a sociedade que construímos! Acho que essa música, mesmo escrita há 20 anos, poderia ter sido lançada hoje!
Quem sabe amanhã minha tristeza se torne em indignação e eu consiga esclarecer melhor os fatos. Por ora vou indo.


Perfeição
Legião Urbana


Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...

Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...

Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...

Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...

Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...

6.10.12

De repente 30





30, trinta, três décadas de vida....
Sempre amei fazer aniversários, Mas hoje, hoje , ai hoje eu queria estar fazendo 29.  Eu queria mais tempo... eu quero mais tempo. Mais tempo de vida, mais tempo para ficar com as pessoas, para curtir as pessoas. Mais tempo para ler, mais tempo pra ouvir música, mais tempo pra dormir, mais tempo para trabalhar. Eu quero mais tempo. Quero mais dias na semana, mais horas no meu dia, quero mais minutos em cada hora.
Estou triste porque quero mais tempo pra viver, para ser! Passou rápido de mais...

 

28.9.12

Terapia

Eu te desejo paz ele me disse ao se despedir, eu respondi:
- Mas será que eu quero a paz?
- A paz é importante, ele me responde e se afasta de mim.

A paz é importante, a paz é importante, o que será que ele quis me dizer? E uma tormenta vesse pela janela. E uma tormenta toma conta dela. Seus pensamentos confusos ora a fazem se sentir pertencente aquela época, aquele tempo, ora a transportam para muito além, para o futuro. Para um futuro em que ela não deva nada a ninguém. E possa ser, simplesmente ser.

Mas eu  quero a inquietude, eu quero a dúvida pensa ela. Como pode ele ter-me desejado paz? Que paz? Que paz que ele quer que eu busque? E ela  confia nele. Sente-se melhor toda a vez que o vê. Sabe que a cada palavra sua, há uma segunda intenção.E como ela se sente bem decifrando segundas intenções, podem ler além do que foi dito. Ele tem o dom de reconfortá-la. De mostrar-lhe quem é, sem regar-lhe expectativas. Como ele consegue isso?

Serão 21 dias sem sua presença, 21 dias. E nestes 21 dias 30 anos se completarão. Uma reunião importante acontecerá. E como eu me comportarei, nestes 21 dias,  longe da paz que seu compreender me proporciona?

Que estas palavras que escrevo aqui possam dar-me um pouquinho da paz que encontro lá. Pois escrevendo aqui um pouco de paz eu encontro. E talvez essa seja a paz que ele me deseja, a paz de compreender-me. E talvez um dia eu possa não precisar mais dele para encontrar a paz que ele me deseja, e que eu, mesmo sem saber, necessito tanto! Mas que essa paz venha acompanhada de um desassossego!

24.9.12

Loucura....

Esses dias estava assistindo ao saia justa, do GNT, o assunto era terapia, o Leo Jaime proferiu uma frase que até agora, reverbera entre meus ouvidos: "Nunca tive medo da morte, e sim da loucura."
Eu também nunca tive medo da morte, sempre gostei da ideia de não sermos infinitos, gosto de saber que um dia eu vou acabar, serei eu concluída. Sempre a tive, a morte, como fazendo parte da vida, talvez por isso nunca tenha poupado vida. Mas e da loucura, tenho medo eu?

Afinal o que é loucura? Quem é louco é porque não é normal? Mas o que é ser normal? Vocês sabem que eu não gosto de definições, estou sempre fugindo de visões fatalistas, e por conseguinte odeio o conceito de norma. A simples ideia de norma engessa tudo, não abre espaço para as pessoas diferentes, que tenham visões diferentes, valores distintos. Pensando bem eu não tenho medo da loucura, pois nesse mundo de pessoas ideais eu sou insana. E quer saber mais, eu amo ser diferente, pensar diferente, agir diferente, mesmo que o preço que eu por vezes pague é carregar comigo o estigma de louca!

Sim eu sou louca e com muito orgulho. Se um dia eu for normal por favor me internem pois perdi meu juízo!



E você aonde se encaixa?

Quem sente-se feliz neste mundo, é ingênuo, hipócrita ou melhor completamente sem escrúpulos!

17.9.12

O que fazer?

Gosta de mim! Fato!
Me deixa voar? Não!
O que fiz é belo? Não é horrível!
Como gostas de mim então?
Deixa-me ir embora? Não necessito que estejas feliz perto de mim!

Se não me deixares voar, nunca ficarei feliz! Não faz mal, prefiro-te perto a feliz!
Isso é amor? Claro, não há amor maior!
Pra mim isso é amor próprio! Que seja!

Porque te sentes tão ameaço por mim?
Não quero te ameçar
Quero ser o melhor de mim
Me deixa ser

Sinto-me como um papagaio com assas cortadas
Sinto-me como passarinho engaiolado
Sinto-me triste, por meu ser te machucar
O que fazer? Para ser e te preservar?

O que fazer? O que fazer?
Se não me liberta
E não me aceita como sou..
Me queres só aos pedaços
E aos pedaços não sei ser...
 
O que fazer? O que fazer?

14.9.12

LO QUE ME GUSTA DE TU CUERPO…


LO QUE ME GUSTA DE TU CUERPO…

Lo que me gusta de tu cuerpo es el sexo.

Lo que me gusta de tu sexo es la boca.

Lo que me gusta de tu boca es la lengua.
Lo que me gusta de tu lengua es la palabra.

Julio Cortázar

12.9.12

Eco-bags

Ouvi uma frase, a pouco, que me causou estranheza e repulsa. Em mais um evento, nesta cidade média do Brasil, que cresce mais que fungo em prato sujo deixado na pia, ouço uma senhora da mais alta sociedade local proclamar, no auge de seus 80 esplendorosos anos de vida, ao tentar convencer alguém a parar de fumar, sobre uma funcionária que houvera em outra época trabalhando pra ela, de que enquanto a tal funcionária lhe servia, com seu trabalho, ela servia a funcionário com o SEU dinheiro. E declamou a frase com tamanha solidariedade e soberba, que ao mesmo tempo me causou estranheza e repulsa. Vamos descrever melhor meus sentimentos.
Fico cada dia mais impressionada com a capacidade que as pessoas tem de convencerem-se, com pequenos, pequeníssimos gestos, de que estão fazendo a sua parte para o bem da humanidade. Como por exemplo o uso das tão aclamadas e polêmicas eco-bags. Bom se você, leitor, desavisado não sabe o que são, pois vou lhes explicar, as eco-bags surgiram como uma alternativa ao uso de sacolas plásticas de supermercados, essas sacolas são produzidas de um material mais resistente, que as torne retornáveis, ou de um material biodegradável, para que não poluam tanto quanto uma sacola de polietileno, grande vilão da era dos frascos não-retornáveis. Essa  proposta é nova? É inovadora? É óbvio que não! Você já pensou como as pessoas iam no mercado antigamente? Quando não existiam os polímeros? Quando as embalagens eram retornáveis? Sim existiu e não faz tanto tempo assim, uma época em que era preciso levar a sua garrafa de vidro ao mercado para levar o seu leite pra casa. A sua sacola de palha, ou o seu carrinho de feira para levar as compras embora. Ah tá, agora tu tá me dizendo que as pessoas tinham que levar os seus recipientes de casa pra poder sair com os produtos do boteco? Sim, é isso que estou dizendo, e mais ainda, que esse tempo está voltando. Porque não é simplesmente substituindo as tão culpadas sacolas plásticas pelas novíssimas eco-bags que iremos acabar com o problema da quantidade excessiva de plástico, polímeros, polietilenos, poliestirenos, que o nosso estilo de vida, descartável, está gerando. Será preciso uma ruptura muito maior, e mais substancial com toda a cadeia produtiva, para que alguma mudança significativa seja percebida na quantidade de lixo que geramos. Não é indo ao mercado com nossas eco-bags, e nos seus interiores contiverem garrafas pet, potes de margarina descartáveis, sacos plásticos separando cada um dos hortifrutigranjeiros que decidamos levar pra casa, que oportunizará essa mudança para um estilo de vida sustentável. As empresas, as grandes corporações  vendem essa ideia, e a sociedade compra, e exibe orgulhosa sua eco-bag customizada nos mercados da cidade, como forma de enaltecer seu espirito solidário, como forma de sua adequação à sustentabilidade, à modernidade. E não se questiona, aceita novamente calada a imposição de um novo costume, da palavra da moda. E não percebe que essa é uma resposta pronta, direcionada, que as permite continuar devastando e produzindo ainda mais lixo, isentas de culpa, porque afinal elas avisaram, até te convenceram que plásticos eram ruim, porque você sabia, e optou por trocar as suas sacolas, mas não as embalagens.


O que também me causa espanto é como as pessoas tem a capacidade de se apropriar, e se sentirem confortáveis com coisas tão fugazes e insubstanciais, por que afinal de contas o que é o dinheiro? Além de algo fugaz e insubstancial? O que faz, no nosso tempo, alguém merecedora de ter mais ou menos dinheiro? Estou vendo o meu leitor se contorcer na cadeira ao ler minha frase, mas ela traduz exatamente o que eu penso. Por que eu mereço ter mais dinheiro do que o caixa do supermercado, que me vendeu a eco-bag, que trabalha de 8 à 10 horas diárias? O que me faz ter mais poder de compra? O que é herança? Você já se perguntou o que é o dinheiro? Bom, eu já e nenhuma resposta me convenceu que eu sou mais merecedora de tê-lo do que qualquer outro habitante deste planeta. O que faz alguém pensar que pode trocar serviços por dinheiro? Não se troca serviços por dinheiro. Se troca por serviços por comida, por moradia, por outros serviços, o dinheiro é só o intermediador do negócio. Mas e aí, alguém pode me responder aonde foi que ele adquiriu esse status de Deus? 



Não me surpreende mais essa sociedade viver tanto de aparência, o dinheiro é também um "ent" (ser) criado para parecer. Para parecer comida, parecer educação, parecer saúde, parecer moradia, parecer... Não me surpreende mais as pessoas se tornarem cada vez mais descartáveis umas as outras se vivemos numa sociedade que descarta tudo inclusive a si mesmo. 
Me choco a cada dia mais por me tornar mais lúcida em um mundo de cegos. Não me choco tanto pelos problemas, mas pela cegueira alheia. Torço para que a cada manhã mais pessoas recuperem suas visões e se tornem conscientes de que fazem parte da sociedade e se responsabilizem por ela. Nós somos parte do problema e somos também parte da solução. Acorde você também!!!

Atualização: 
Acho que as pessoas começaram a acordar vejam a agradável surpresa que assisti hoje: http://www.facebook.com/quemseimportaofilme?sk=app_190322544333196

7.9.12

Independência?

Não me lembro agora se foi em um filme, não foi no livro: comer, rezar e amar, da Elizabeth Gilbert, as pessoas escolhiam uma palavra para se retratarem, escolhiam a palavra que mais se adequava a elas. Acho que a minha palavra é aprender. A minha vida só tem sentido pelo aprendizado. Pela capacidade que temos de continuar evoluindo. De manter a mente e a alma abertas para o mundo, para as pessoas, os animais, a sociedade. Aprender para evoluir, para me tornar alguém melhor, para minha família, meus amigos, para a sociedade. Aprender para poder me entender melhor. Aprender para poder ensinar, por que não?


Tenho refletido muito sobre o papel que o governo exerce sobre nossas vidas atualmente. Sobre o assistencialismo que nós exigimos dos nossos governos. Por que o governo precisa administrar a vida das pessoas? Por que precisa re responsabilizar por ela? Elas são deficientes mentais, que não são capazes de olhar além do imediato? Porque precisamos pagar tantos impostos para os governos administrarem nossa saúde, nossa aposentadoria, nosso dinheiro? 




Cada dia mais acredito que o estado deveria ser mínimo. Cada indivíduo deveria se responsabilizar pela maneira que planeja sua vida. A sociedade de consumo que vivemos hoje em dia emburrece as pessoas. Ninguém mais se planeja para fazer nada. Porque se tem tudo sempre a seu alcance a hora que precisar.  Essa é uma péssima contribuição que herdamos da nossa sociedade atual, a falta de planejamento. O imediatismo. E isso é um problema global. E os cidadãos não percebem o preço que pagam para terem seus mercados, shoppings, restaurantes, lavanderias, salões de beleza, academias, etc, abertos 24h. Pagam com a falta de planejamento. 

Sinceramente não entendo porque algumas pessoas precisam trabalhar tanto para manter essa sociedade de consumo, cada vez mais exigente porque detém o poder de compra, em benefício de uma classe tão pequena, inescrupulosa e egoísta. Vivemos nós hoje tão diferentes dos sistemas feudais? Claro que as condições de saúde melhoraram muito, o acesso a informação, leis e tudo mais. Mas não se enganem ainda vivemos em regime de escravidão, somos iludidos com migalhas para não nos rebelarmos. 



A verdadeira revolução só é possível se um verdadeiro sistema educacional for implantado. É preciso ensinar a população a pensar. Não apenas fazer com que vão as escolas para conforma-las com sua condição e torna-los massa de manobra. 

Bom Feriado da independência do Brasil!

3.9.12

Meu mundo particular

Como seria meu mundo particular?

Certamente não se viveria em apartamentos, apartamentos são frios, isolam as pessoas, é necessário por os pés no chão, ah é fundamental se por os pés no chão. No meu mundo apartamentos não existiram. As pessoas seriam todas baianas. "Que as ideias voltem a ser perigosas" acabo de ler essa frase e ela me faz muito sentido, porque ando com um pouco de medo das minhas ideias, elas estão ficando assustadoramente perigosas.

Mas porque diabos as pessoas precisam viver empoleiradas em seus pombais de concreto, se confinando em cidades grandes, perdendo tempo com transito, supermercados? Para terem ao seu alcance "tudo" que precisam? Mas o que de fato elas precisam, elas sabem? Elas são conscientes que vivem em um mundo consumista? Que lhes impõe do que precisam gostar? O que precisam comer, vestir? Que nesse instante precisam comprar um carro novo, que amanhã, para serem felizes precisaram de um apartamento naquela rua específica da cidade. Estas pessoas estão todas cegas? Só eu enxergo isso?




No meu mundo todas os habitantes serão capazes de ver, de enxergar através das intensões. Haverá tristezas? Sim haverá, porque a felicidade só pode ser contemplada se conhecemos a tristeza. Em meu mundo, que não será densamente povoado, ninguém tentará possuir ninguém, Nenhum morador desse lugar especial tentará impor sua vontade ao outro, nem política, muito menos religiosa. Não vislumbro um mundo sem lei, não vejo isso, mas um espaço onde a diversidade seja enaltecida, o antropofagismo seria reinventado, ser diferente será considerado normal, porque não haverá norma.

No meu mundo as pessoas serão capazes de colocar de lado seu ego e sua vaidade em nome da coletividade, em nome do bem estar  dos outros, e não serão considerados cordeirinhos por isso, não serão explorados e nem subjugados. Mas será de entendimento de todos que se a coletividade andar bem todos caminharam melhor.

Tudo bem, eu sei que este meu mundo está um ficando utópico, mas afinal pra que servem as utopias? Para nos conformarmos que elas são inatingíveis?  Não, acho sinceramente que não, as utopias precisam ser desenhadas pra gente saber aonde quer chegar. Neste meu mundo utópico não haverá propagandas, não haverá espaço pra anunciar produtos ou serviços, não se tentará iludir, ou persuadir ninguém a ser o que não é, a valorizar os produtos às pessoas. A propaganda será no boca a boca, as pessoas não precisaram se definir, pertencer a um grupo ou a outro. As pessoas irão agir conforme sua escolha e serão estimuladas a pensarem por si próprias.

Quero, ou melhor idealizo um mundo onde os cidadãos sejam livres, e não precisaram expor essa liberdade a ninguém, não precisaram agredir os outros por aquilo que são, porque serão aceitos pelo que são. Será que alguém trocaria esse mundo atual pelo que estou modelando aqui?

O sistema educacional ensinará as crianças a pensar, a terem ideias próprias a se diferenciarem a se individualizarem. Despertaram o gosto pela leitura, pelos grandes pensadores, cada criança no seu tempo. Serão incentivadas e elas não terão que re-inventar a roda, cada criança será levada a descobrir e aprimorar suas reais capacidades. Os professores serão guias, orientadores e serão bem instruídos para tal. Serão valorizados.

Não vejo uma sociedade socialista, ao contrário o governo não será patriarcal. O governo será mínimo. Cada cidadão desse novo mundo responsabilizar-se-a por seus atos e assumirá suas consequências. Haverá punição? Não sei ao certo como seria a punição de quem descumprisse os termos do acordo para viver neste lugar. É inegável que pessoas de má fé existem em nossa sociedade, me pergunto inclusive se não são a grande maioria. E para que mesmo sendo utópico, meu mundo em algum plano possa existir algum tipo de punição há de conter. Muito me agrada a ideia de exclusão social. Soube que algumas tribos africanas excluem socialmente os membros que cometiam crimes não passiveis de perdão.  

E como seria o seu mundo? 

2.9.12


TEMPO
Viviane Mosé
quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto com uma navalha fina sem raiva nem rancor o tempo riscou meu rosto com calma
(eu parei de lutar contra o tempo ando exercendo instantes acho que ganhei presença)
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim
e por falar em sexo quem anda me comendo é o tempo na verdade faz tempo mas eu escondia porque ele me pegava à força e por trás
um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo se você tem que me comer que seja com o meu consentimentoe me olhando nos olhos…
acho que ganhei o tempo de lá pra cá ele tem sido bom comigo dizem que ando até remoçando


31.8.12

Olhos de saudade




Aqueles olhos a me olharem com tanta saudade mesmo antes de deixá-la. Ah aqueles olhos, nunca conheci alguém mais expressiva do que ela. Aqueles olhos contavam-me tudo. Eram francos. Podia-se ver sua alma, se assim ela deixasse. E ela me permitiu, vi tamanha paixão, tanta liberdade, uma coragem que assustava e muito medo, vi muito medo naquela menina de cabelos vermelhos.

A vontade e a pressa que ela tinha de viver, me entorpeciam, me sufocavam e me viciaram. Se eu pudesse eternizar algum momento, voltaria sempre para a sua cama. Fomos tão cúmplices, tão verdadeiros. Éramos um ao outro tudo que queríamos. Voltaria àquelas noites que dormia com ela pressa em meus abraços. Ela tão doce, tão menina, tão segura e tão frágil. Estava machucada, queria a felicidade.

E eu, bom eu sabia que tudo tinha data pra acabar. eu lhe avisei, em breve vou embora, Anna não se importou. Disse-me: - Quero apenas viver ao teu lado o tempo que ainda nos resta. Mas ela queria tudo, queria desvendar minha alma, exigia-me meus medos, me exigia, enquanto estivesse com ela. Eu admirei sua coragem. Mas fiquei com medo. Resolvi deixá-la na esperança que meu sofrimento fosse reduzido.

Ela me esperou naquela noite com lírios na mesa. Uma massa quatro queijos e uma garrafa de vinho. Queria uma despedida inesquecível. E foi. Jantamos. Assisti meu filme favorito com ela entre meus braços, beijando sua orelha e acariciando seus seios. Ela me olha e seus olhos me imploram pra ficar. Pra tê-la sempre assim segura, cuidada, amada em meus braços. Meus olhos marejaram, eu disfarço.

Ela me levou até o portão, fez questão, queria saborear cada segundo que lhe restava pra me absorver. Beijou minha orelha e falou baixinho que nunca me esqueceria, que sentiria falta de acordar na madrugada comigo acariciando seus cabelos longos. Parti, parti querendo ficar. Querendo que ela fosse só minha. Querendo que ela nunca me deixasse. Querendo ter a certeza que se a tivesse ela nunca me deixaria.

Aqueles olhos de saudade a me chamar.


30.8.12

O que eu diria pra mim com 12 anos?

O que eu diria a Kelen com 12 anos? Diria pra ela não ter rancor de seus pais que a fazem trabalhar desde tão nova. Diria pra ela que graças a isso ela aprendeu a valorizar o que adquiri com seu próprio esforço. Diria a ela a escutar e não apenas ouvir as pessoas mais velhas. Que as aulas de inglês lhe farão falta no futuro. Diria a ela pra não ter pressa, que tudo tem seu tempo pra acontecer. Diria que ela é mais fraca do que pensa e ao mesmo tempo muito mais forte do que ela é capaz de imaginar.



Diria que o mundo é machista, mas ela não precisa mostrar que é melhor do que ninguém pra ser aceita. Diria a ela pra brincar mais, sonhar mais, viver mais. Tomar mais banhos de chuva. Pra correr mais riscos. Que a vida não tem uma fórmula ou uma estrada pra ela percorrer, mas que essa estrada será construída por esforço próprio. Diria a ela pra não ser tão séria, e tão exigente consigo mesma. 

Que seu coração é delicado e ele será muitas vezes machucado. E que ela também vai machucar as pessoas, e isso é normal, faz parte da vida. Porque não podemos controlar as expectativas dos outros, e que o sentimento de culpa só nos amarra as pernas. Diria que sentir medo é natural, e não a enfraquece, apenas a torna humana. 

Se eu pudesse encontrar com ela, diria pra continuar do mesmo jeitinho com muita curiosidade, muita energia, e se apaixonando sempre pela vida. Diria pra não se assustar consigo mesma. Que pensar é a maior de todas as qualidades que ela possui, e que ela aprenderá a admirar isso nela.

Sabe de uma coisa se eu pudesse conversar comigo ao 12 anos eu não diria nada. Eu deixaria a vida me ensinar tudo isso, para que um dia eu pudesse ter orgulho da estrada pela qual eu caminhei. Eu apenas lhe sorriria e passaria a mão na cabeça. Diria apenas: nunca deixe de subir em árvores menina!


29.8.12

Olhos negros



Depois de seis meses finalmente resolvo ceder aos seus convites. Combinamos de almoçar no shopping que ele trabalha, amanhã. Vou ter que ir até Porto Alegre para um compromisso pela manhã, já aproveito pra revê-lo. Mas a mágoa ainda não passou. Meu coração ainda está ferido ainda sinto-me usada. Sei que o sentimento que ele nutre por mim é verdadeiro, porém algo sempre me alerta para a possibilidade dele tentar tirar proveito de mim. Não sei ao certo o que ele pretende. Já me disse que não quer namorar, eu já pensei na possibilidade confesso. Acho desafiador andar com ele a tira colo. Um "Negro" lindo, corpulento. Por vezes acho que sou eu a abusar dele.

Um menino em um corpo de homem. Travando por vezes as mesmas guerras que eu. Ele quer trabalhar em uma grande corporação, ganhar bem. A sociedade conseguiu atraí-lo com suas teias, ele acha que um bom salário lhe garantirá felicidade. Ao passearmos pelo Iguatemi eu lhe digo: eu prefiro à autonomia à estabilidade. Ele me responde: é bem teu tipinho: mandona! Fico pensando, é bem meu tipinho mesmo, mas prefiro à autonomia de poder mandar em mim à estabilidade de um bom salário, que me confina, me engessa. Eu lhe digo: já pensei assim, e lhe mostro a língua.

Mandei uma mensagem ao chegar no shopping: estou na frente da cultura. Quando o vi chegar, não era ele, era  outro. Eu era outra. Ele não me olha mais como antes, me olha sem interesse, sem curiosidade, como pode ainda querer me ver?  Se me vê e não me enxerga? Será que eu o enxergo? Já o julguei errado tantas vezes. Já pensei que ele só queria festa e vida mansa. Mas não, terminou o curso técnico, e antes do fim já era funcionário de carteira assinada. Um bom estágio, lhe rendeu frutos.

Aqueles olhos tão negros já me disseram tanto, hoje não me dizem nada, será que é o meu reflexo? Será que meu olhar também mudou? Queria por um instante voltar a noite que nos vimos pela primeira vez e vê-lo passar de novo com aquela camiseta branca, ouvir de novo sua voz grossa em meu ouvido, mas principalmente ter aqueles olhos cheios de esperança e curiosidade a me enxergar novamente.

E nos despedimos de volta na cultura, como dois estranhos que nos tornamos. Porque talvez sejamos isso dois novos estranhos. E a cada novo reencontro seremos estranhos novos.