"Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura." - Charles Bukowski

2.8.12

Mulheres maravilhas? Não, não, só seres humanos do gênero feminino

Estou lendo "O segundo sexo" de Simone de Beauvoir, tido por muitos como a bíblia do feminismo, embora Simone ao escrevê-lo nem ao menos se considerava feminista. O livro, em sua primeira parte, faz um relato histórico da condição feminina. É uma obra prima muito bem embasada e referenciada. É chocante perceber ao lê-lo que nossa condição como mulher só tenha começado a mudar com a revolução industrial, onde as mulheres se tornaram mão de obra barata. E me atrevo a dizer que a mulher, assim como as crianças só se tornaram "Seres Humanos" iguais quando se tornaram além de mão de obra, consumidores. 

Sou uma crítica ferrenha ao capitalismo, ou melhor a nossa sociedade de consumo desenfreado, mas é preciso reconhecer os benefícios que ela trouxe a nós mulheres e as crianças, que deixamos nossa condição inferior para nos tornar consumidores IGUAIS. 


Contudo a criação de leis que legitimam a igualdade entre homens e mulheres não é garantia de uma sociedade igualitária para os gêneros. E hoje sofremos um preconceito velado. Não nos é permitido usar a palavra feminista, a ela foi atribuída uma conotação pejorativa. Uma mulher que se autodenomina feminista é tida como radical. Mas afinal o que é o feminismo? O movimento feminista surgiu em meados do século XIX,  e tinha como principal bandeira a igualdade, a igualdade de direitos e deveres, civis, criminais, educacionais, etc... Então sim eu ainda hoje sou uma mulher feminista! Porque ainda existem desigualdades a serem superadas, preconceitos a serem derrubados. Mulheres sofrem e são vítimas de violências todos os dias em muitos lugares do mundo. Muito avanço já foi feito, e muito há por fazer.
Nós mulheres somos livres, e independentes há pouquíssimo tempo, e ainda estamos engatinhando na arte de viver em pé de igualdade, sem precisar provar nada. Me remeto a frase de outra escritora fenomenal, Clarice Lispector, do livro A paixão segundo G.H., que li há alguns anos atrás, "É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que me achar seja de novo a mentira de que vivo" esta frase chega a doer quando leio, e explica um pouco a dor que nós mulheres sentimos ao vivenciar essa experiencia libertadora. Porque perder-se neste caso se refere a tudo que é novo, ao mundo novo que a igualdade feminina nos traz. Acho sim que muitas mulheres estão tentando se achar, e prendendo-se a mentiras, a falsas ilusões de liberdade. Têm-se negado a perder-se e viverem perdidas na liberdade.
Na ausência de uma versão melhor: deixo pra vocês uma música que traduz a alma da mulher moderna. Combina com o texto! Nega marrenta!
A segunda música, é um pouco como nos sentimos frente a nós mesmo! Excelente interpretação de Marisa Monte!


4 comentários:

  1. Boa tarde!

    Li seu post, mas discordo dele.

    Veja: se por um lado o termo FEMINISMO é visto com preconceito pela sociedade (com o que concordo), por outro lado com muito mais preconceito é visto o termo MACHISMO (e não poderia ser diferente).

    Não acho que a SOCIEDADE seja preconceituosa - veja, por exemplo, que o estado do RS tem mais JUÍZAS do que JUÍZES, e vais concordar comigo que é um cargo de alto status, de difícil acesso a todos, de alta remuneração e de altíssima exigência intelectual.

    As violências das quais muitas mulheres são vítimas, como referistes, no meu entender devem-se não a um preconceito existe na SOCIEDADE em si, mas sim em indivíduos incapazes de compreender NÃO A IGUALDADE, pois homens e mulheres não são iguais, mas a natureza das diferenças entre indivíduos dos dois sexos. E, principalmente, incapazes de entender que essas diferenças não fazem o sexo A ou o sexo B superior, apenas diferentes entre si - assim como morango e laranja são obviamente diferentes entre si, sem que haja espaço para discutir-se qual delas é a "primeira fruta" ou a "segunda fruta", para parafrasear Bouvoir.

    Em todo caso, parabéns pelo seu texto e pela iniciativa de se expressar. Apesar de não concordar com a idéia central dele (direito meu em um país livre), reconheço a coerência dos argumentos.

    Um grande abraço e continue com o blog, está muito bom!

    Thiago.

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  2. Tens todo o direito de discordar do meu texto Thiago, e não será por isso que o deixarei de postá-lo neste espaço. E me reservo o direito de discordar da tua argumentação. O que descreveste de um ambiente em que mulheres tenham alcançado cargos de extrema importância dentro da sociedade, é sim uma verdade, mas infelizmente não é a única. Os homens que não são sexissistas não conseguem perceber tamanho espaço que o preconceito ocupa na nossa sociedade. O Brasil é um dos países que as mulheres possuem maior liberdade, e fico feliz por isso. Mas essa está longe de ser a realidade da maioria das mulheres mundiais.

    Abraço!

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  3. Bom, mas se essa não é a realidade da maioria das mulheres MUNDIAIS, e não é mesmo, então não estamos mais falando do preconceito na NOSSA sociedade, e sim do preconceito NA ESPÉCIE HUMANA como um todo. São coisas distintas.

    De fato há culturas, bem diferentes da nossa, diga-se, que são extremamente sexistas, em especial na África e no mundo árabe, onde a condição da mulher é aviltante. E quem é o "culpado" por isso? O Capitalismo? Acredito que não, são comunidades que mal o conhecem, muitas vivem situações praticamente feudais, tamanho o seu atraso sócio-cultural. A culpa é justamente desse atraso sócio-cultural, e da falta de interesse de quem domina essas situações em mudá-las.

    No mundo capitalista, a situação é exatamente inversa: ao capitalista, interessa que a mulher tenha tanto poder de compra e liberdade-capacidade de decisão quanto o homem, para que seja ela também uma consumidora e uma agente no mercado capitalista. Por outro lado, na China comunista as famílias repudiam bebês do sexo feminino, que são muitas vezes rejeitados e por vezes até mortos após o nascimento.

    Grande abraço!



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  4. Thiago,

    Gostei tanto do comentário, que meu cérebro está fervilhando, acho que devo e quero escrever um novo post sobre isso. Assim que possível posto por aqui!

    Abraço!

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