Não vivemos numa sociedade onde homens e mulheres tem direitos iguais? Se um homem fosse sozinho ao estádio eles teriam a mesma reação? Eu sinceramente acho que não.
O fato é que cheguei num ponto que não deixo de fazer nada do que tenho vontade por falta de parceria. Não estou disposta a perder nada dessa vida efêmera por medo de fazê-lo sozinha. Ir ao estádio sozinha nunca foi um problema, mas desta vez decidi não ir de carro, mas ir de metrô, pedi a minha irmã que me desse uma carona até a estação e lá fui eu, confesso que fiquei tensa, mas ao entrar no vagão dei de cara com dois conhecidos, e já me tranquilizei, ufa, pensei, a ida será tranquila.
Após uns 40 minutos de viagem, enfim chegamos a estação Anchieta, desci e junto com centenas de outros gremistas caminhamos cerca de 1,5 Km até a Grêmio Arena, tudo muito tranquilo, policiado, e repleto de vendedores ambulantes. Entrei no estádio, encontrei minhas amigas do núcleo das mulheres gremistas, que assim como eu, adoram ir ao estádio sozinhas, gritam, xingam o juiz e o técnico, e só falam palavram para desopilar e no estádio!
Ao final do jogo, me despeso das meninas, uma de 70 e outra de 50, Dione, a "tia" e Sandra, rapidamente me dirijo as escadarias da arena, e me surpreendo com a velocidade com que o estádio é esvaziado, e sem atropelos, sem pontos de aglomeração, tudo livre para facilitar a evacuação rápida do estádio, caminho no sentido da estação Anchieta, agora não com centenas, mas com milhares de torcedores, e o caminho de volta é ainda mais seguro e policiado. Chego a estação passo meu bilhete e entro no vagão, a esta altura semi lotado. De fato, 90% do vagão é composta com pessoas do gênero masculino.
Em nenhum momento fui desrespeitada, apenas senti sim alguns olhares curiosos, com pontos de interrogação do tipo: "Ué, mas ela está sozinha?" E nada além disso, desembarquei na estação Santo Afonso a 1:08 da madrugada, desci as escadas rolantes e procurei o primeiro táxi livre, embarquei e cerca de 15 minutos depois cheguei em casa, confesso que muito feliz. Não com o resultado do jogo, empate em 0 x 0, mas com a percepção de que eu vivo numa sociedade livre, que me permite ser um ser humano do sexo feminino e ter os mesmos direitos de ir e vir de qualquer cidadão. E vivenciar que muito do machismo ainda existente é simplesmente sensação.
E eu não sou louca, talvez "roots" por ter a coragem de experimentar, de colocar a prova o sistema, de correr os riscos. Medo? Tive medo? Confesso que sim, mas o medo que tive, acredito que teria mesmo se fosse homem, o medo da insegurança, de ser assaltada, não por ser mulher, mas por ser cidadã, por ser humana, não por ser mulher.
Sarah Menezes, de azul, ao vencer a luta, que lhe dei a medalha de ouro olímpica em 2012. |
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